Capítulo 9 - A Assistente Social na Minha Casa

Aquele dia foi muito marcante. A primeira reunião da qual participamos foi ótima, muito motivante e edificante. Agora, precisávamos receber a assistente social em nossa casa.

Estávamos exaustos mas a famosa rachadura não poderia ficar à mostra. É claro que ela desapareceria quando pintássemos a casa, o que estava planejado para ocorre em 30 dias, mas mesmo assim poderia não ficar bem no relatório "casa de engenheiro, rachadura que vai de uma ponta a outra da parede".

A bendita rachadura não oferecia perigo, mas era muito feia, é verdade. Então, para não assustar a asistente social, que iria avaliar nosso imóvel pra ver se tinhamos condição ter uma criança ali dentro, resolvemos não arriscar. Compramos gesso e massa corrida. Começamos a trabalhar por volta das 22:00. às 23:30 estava tudo pronto.

Acordamos 06:30. Que ótimo, o céu estava limpo, um azul lindo. A assistente ficou de chegar a partir das 08:30. Lavamos uns copos, tiramos o lixinho do banheiro, Léo lavou o carro e pronto. A casa estava ótima.

Nove horas. Nada. Nove e meia. Nada. às 10:10 a AS chegou. Umas nuvens escuras se juntaram no céu. O carro do juizado parado lá na porta não ficava bem mas, os vizinhos vão entender depois. A assistente era muito simpática. Rapidinha, assim que se apresentou começou logo a anotar o que via. E disparou a fazer perguntas.

"Eu trabalho aqui", me adiantei a explicar o óbvio, meu escritório na frente da casa, com uma entrada independente. Ela anotou. Perguntou o que meu marido fazia. Léo estava no escritório e resolveu ficar por lá. Achou melhor que eu mostrasse a casa. Ela deve ter perguntado porque achou estranho um marido, em plena quarta-feira, às 10:00 da manhã, em casa. Ela precisa mudar seus conceitos - pensei. Léo era matemático e dava aulas à noite, numa escola num bairro distante. De tarde ele estudava engenharia na faculdade pública e de manhã trabalha comigo. Ele é um super-marido, mas ela não sabia disso.

No final de semana anterior nós havíamos comprado os sonhados moveis da sala. Mas a tão precisada pintura, que daria vida à tudo, ainda não havia começado.

Ela perguntou aonde era o quarto do nosso filho. Levei ela lá. O quarto era pequeno, mas dava para uma criança sobreviver, pois era bem arejado, e dava uma cama, um guarda-roupa e uma cômoda. Minha experiência de vida mostrava que dava umas três crianças ali, pois minha mãe conseguiu criar 5 meninas num quarto parecido. Mas Léo, que cresceu tendo o próprio quarto desde pequeno, não acreditava muito em mim quando eu falava sobre o potencial daquele quarto.

Eu e minhas quatro irmãs só tivemos mais espaço quando eu já tinha uns 16 anos. Eu sabia exatamente o que era dividir prateleira por prateleira de um guarda-roupa. E eu gostava de dormimos tão juntas. À noite, eu demorava a dormir, e sempre tinha alguém pra tentar me esperar pegar no sono.

A assistente foi no nosso quarto. A operação foi um sucesso. Ela nem notou a marca da massa corrida recém-colocada. Mais anotações, mais perguntas e ela disse que iria embora.

Quando a assistente social se foi, fiquei preocupada. No ritmo que as coisas iam, a casa precisava ficar pronta rápido. Em poucos dias teríamos a reunião com a psicóloga e seríamos habilitados. Não tínhamos dinheiro para deixar a casa perfeita, mas pelo menos nosso filho teria uma casinha pintada e aconchegante para morar. Eu queria que ele se sentisse bem, acolhido e feliz.

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