O dia estava lindo demais. OCéu azul radiante, uma temperatura muito agradável. Eu só pensava na reunião, é claro. Estava curiosa pra saber o que acontece numa reunião de pais, no juizado de menores.
A pisicóloga do nosso juizado, a Dra.Cíntia, fazia este tipo de reunião entre quem já adotou e quem estava querendo adotar. A idéia parecia brilhante mesmo.
A ansiedade que já não estava pouca, aumentou depois que recebi um telefone do juizado; “a assistente social visitará a sua casa amanhã de tarde”. Pronto, a rachadura. Acreditem, nós engenheiros, morávamos numa casa onde havia uma linda rachadura em nosso quarto, que fizemos questão de ignorar todos estes anos, porque sabíamos exatamente qual o motivo dela existir. Mas a assistente social não sabia, e não iria entender, com certeza. Mas poderíamos dar um jeitinho nela rapidamente, com massa corrida, à noite, depois da reunião com a psicóloga.
O nervoso era tanto que nós não almoçamos. Quando chegamos ao prédio de estacionamento próximo ao juizado, vimos uma lanchonete com salgados maravilhosos e resolvemos lanchar. Só havia um problema. Léo esqueceu de passar no banco e sacar dinheiro. Contamos moedinha por moedinha que havia nos bolsos e não pagava o lanche que queríamos.
“Quando nosso filho chegar isso não pode acontecer” – foi o que passou na cabeça dos dois. A nossa salvação foi uma barraquinha do lado de fora do prédio, que vendia alguns lanchinhos, não tão bonitos, mas muito saborosos também. Separamos então as moedas que pagariam o estacionamento – dava para pagarmos por 4 horas. E fizemos o lanche. Faltam apenas dez minutos para a reunião, falei pra Léo, que ainda saboreava o delicioso cheeseggburger. Que tal um brigadeiro antes de irmos? Léo perguntou. Bem, um brigadeiro custa uma hora do estacionamento - pensei. Não acreditava que a reunião iria demorar tanto, afinal, o juizado deveria fechar às 18:00 horas, no máximo.
Fomos para a reunião comendo o brigadeiro. Chegando lá, a sala estava cheia, mas ainda havia dois lugares. Os nossos, é claro. As cadeiras estavam dispostas em círculo, e havia uma cadeira numa posição aonde todos poderiam ver quem fosse falar ao grupo. Ninguém estava sentado lá ainda.
Havia quatro casais heterosexuais, três solteiras, duas amigas, e um casal homossexual feminino. O casal mais próximo da cadeira principal foi o casal que eu conheci na nossa primeira visita ao juizado. O casal que estava bem na nossa frente parecia ter a mesma faixa etária que eu e Léo. E os olhos deles brilhavam. As duas solteiras liam livros. Todos os outros estavam imóveis, como se estivessem brincando de estátua. Inclusive nós dois.
A reunião começou às 16:30, com a pisicóloga pedindo desculpas pelo atraso e explicando o que faríamos ali. Nós escutaríamos a história de uma das solteiras, que adotou sozinha um menino de 4 anos.
Eu achava que já havia visto aquela solteira. Acho que a vi no shopping inaugurado recentemente. Lembro que ela estava com um menino segurando a sua mão. Me lembro dela porque me lembro da minha reação ao ver os dois. Ela, branca, loira. Ele, negro. Quando os vi, era como se eu estivesse me vendo em poucos dias, porque nós iríamos adotar uma criança negra, e provavelmente seria um menino. Lembro que olhei pra ela, depois pra ele, depois pra ela de novo. Reação boba, mas natural.
O que se passou a partir daí foi uma aula de amor. A história que ouvi naquele dia marcou, não só a mim, mas a todos que estavam naquela sala.
Ela não ouviu sininhos tocarem, como aconteceu comigo e Miguel, quando olhou a criança pela primeira vez. Disse que foi um processo de conhecimento até que ela tivesse certeza de que era o filho dela. Será que é isso que vai acontecer comigo? Ou será que vou olhar e sentir? Mil coisas se passaram em minha mente, sobre este momento que considero o mais importante no processo.
Ela falou muito sobre as primeiras reações do menino, sobre o primeiro choro, a primeira birra. O medo dele de ser levado de volta ao orfanato. Cíntia, a piscicóloga falou que ele ainda precisava ouvir muito mais as expressões “esta é sua casa”, “este é seu quarto”, “eu sou sua mãe”, pois ele estava precisando de auto-afirmação. Era preciso conduzir muiti bem as coisas, com muito carinho e paciência.
A reunião acabou às 17:30. Precisávamos correr, pois nosso “tempo de estacionamento” havia se esgotado. Foi uma pena, porque eu gostaria ter ficado conversando com aquelas pessoas.
Percebi, naquela tarde, que eu agora pertencia ao mundo de pessoas diferentes. Não ao mundo aonde as pessoas acham lindo o fato de adotarmos, ou que acham que estamos assumindo problemas dos outros. Nós agora pertencemos ao mundo dos que tornam o desejo real, dos que vivem na prática o adotar, com o bonito e o feio que ele trás. E eu amo fazer parte deste mundo.
A pisicóloga do nosso juizado, a Dra.Cíntia, fazia este tipo de reunião entre quem já adotou e quem estava querendo adotar. A idéia parecia brilhante mesmo.
A ansiedade que já não estava pouca, aumentou depois que recebi um telefone do juizado; “a assistente social visitará a sua casa amanhã de tarde”. Pronto, a rachadura. Acreditem, nós engenheiros, morávamos numa casa onde havia uma linda rachadura em nosso quarto, que fizemos questão de ignorar todos estes anos, porque sabíamos exatamente qual o motivo dela existir. Mas a assistente social não sabia, e não iria entender, com certeza. Mas poderíamos dar um jeitinho nela rapidamente, com massa corrida, à noite, depois da reunião com a psicóloga.
O nervoso era tanto que nós não almoçamos. Quando chegamos ao prédio de estacionamento próximo ao juizado, vimos uma lanchonete com salgados maravilhosos e resolvemos lanchar. Só havia um problema. Léo esqueceu de passar no banco e sacar dinheiro. Contamos moedinha por moedinha que havia nos bolsos e não pagava o lanche que queríamos.
“Quando nosso filho chegar isso não pode acontecer” – foi o que passou na cabeça dos dois. A nossa salvação foi uma barraquinha do lado de fora do prédio, que vendia alguns lanchinhos, não tão bonitos, mas muito saborosos também. Separamos então as moedas que pagariam o estacionamento – dava para pagarmos por 4 horas. E fizemos o lanche. Faltam apenas dez minutos para a reunião, falei pra Léo, que ainda saboreava o delicioso cheeseggburger. Que tal um brigadeiro antes de irmos? Léo perguntou. Bem, um brigadeiro custa uma hora do estacionamento - pensei. Não acreditava que a reunião iria demorar tanto, afinal, o juizado deveria fechar às 18:00 horas, no máximo.
Fomos para a reunião comendo o brigadeiro. Chegando lá, a sala estava cheia, mas ainda havia dois lugares. Os nossos, é claro. As cadeiras estavam dispostas em círculo, e havia uma cadeira numa posição aonde todos poderiam ver quem fosse falar ao grupo. Ninguém estava sentado lá ainda.
Havia quatro casais heterosexuais, três solteiras, duas amigas, e um casal homossexual feminino. O casal mais próximo da cadeira principal foi o casal que eu conheci na nossa primeira visita ao juizado. O casal que estava bem na nossa frente parecia ter a mesma faixa etária que eu e Léo. E os olhos deles brilhavam. As duas solteiras liam livros. Todos os outros estavam imóveis, como se estivessem brincando de estátua. Inclusive nós dois.
A reunião começou às 16:30, com a pisicóloga pedindo desculpas pelo atraso e explicando o que faríamos ali. Nós escutaríamos a história de uma das solteiras, que adotou sozinha um menino de 4 anos.
Eu achava que já havia visto aquela solteira. Acho que a vi no shopping inaugurado recentemente. Lembro que ela estava com um menino segurando a sua mão. Me lembro dela porque me lembro da minha reação ao ver os dois. Ela, branca, loira. Ele, negro. Quando os vi, era como se eu estivesse me vendo em poucos dias, porque nós iríamos adotar uma criança negra, e provavelmente seria um menino. Lembro que olhei pra ela, depois pra ele, depois pra ela de novo. Reação boba, mas natural.
O que se passou a partir daí foi uma aula de amor. A história que ouvi naquele dia marcou, não só a mim, mas a todos que estavam naquela sala.
Ela não ouviu sininhos tocarem, como aconteceu comigo e Miguel, quando olhou a criança pela primeira vez. Disse que foi um processo de conhecimento até que ela tivesse certeza de que era o filho dela. Será que é isso que vai acontecer comigo? Ou será que vou olhar e sentir? Mil coisas se passaram em minha mente, sobre este momento que considero o mais importante no processo.
Ela falou muito sobre as primeiras reações do menino, sobre o primeiro choro, a primeira birra. O medo dele de ser levado de volta ao orfanato. Cíntia, a piscicóloga falou que ele ainda precisava ouvir muito mais as expressões “esta é sua casa”, “este é seu quarto”, “eu sou sua mãe”, pois ele estava precisando de auto-afirmação. Era preciso conduzir muiti bem as coisas, com muito carinho e paciência.
A reunião acabou às 17:30. Precisávamos correr, pois nosso “tempo de estacionamento” havia se esgotado. Foi uma pena, porque eu gostaria ter ficado conversando com aquelas pessoas.
Percebi, naquela tarde, que eu agora pertencia ao mundo de pessoas diferentes. Não ao mundo aonde as pessoas acham lindo o fato de adotarmos, ou que acham que estamos assumindo problemas dos outros. Nós agora pertencemos ao mundo dos que tornam o desejo real, dos que vivem na prática o adotar, com o bonito e o feio que ele trás. E eu amo fazer parte deste mundo.
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