Capítulo 12 - Quando o Amor Não é Correspondido

Faz apenas dois dias que tivemos nossa primeira reunião a sós com Dra. Cíntia. Era a nossa segunda reunião em grupo. Embora eu gostasse das reuniões, estava contando nos dedos o número de reuniões obrigatórias para que a psicóloga passesse o processo para que o juiz liberasse a nossa habilitação. Nomezinho estranho para esta situação. Habilitação. Precisamos provar que somo capazes de ter um filho.

Eu já não estava tão ansiosa quanto fiquei na primeira reunião em grupo. Estava bem à vontade, pois reconheci alguns rostos e já conhecia a psicóloga e sua assistente Priscila.

Esta reunião foi diferente. Dra Cíntia disse que não traria desta vez um caso de sucesso. Traria sim, um caso de desistência.

Até a expressão foi diferente. Não que seja um caso de insucesso. Foi melhor a mãe ter decidido antes que passasse o período da guarda provisória.

Não nos contaram detalhes, mas entendermos uma coisa: houve uma completa incompatibilidade entre acriança e a mãe. Completa mesmo. A mulher que nos contou a história foi a própria mãe. Ou melhor, ex-mãe, se é que algo assim existe. Ela estava abatida, pálida, sofrendo claramente. Disse que se sentia incapaz, fraca. E nos deu o conselho mais importante que recebemos até agora: nas visitas, fique à sós com a criança.

Pode parecer uma bobagem, mas alguns funcionários despreparados tentam “adestrar” as crianças. Acreditem. Eles ensinam as crianças a te chamarem de mamãe quando vc entra na instituição e pressionam as crianças na hora das visitas para que se comportem como você deseja.

E nós, que chegamos fragilizadas e cheias de idéias românticas sobre as crianças, acreditamos que nosso filho é aquele, e é daquele jeitinho meigo que está mostrando. Mas quando você fica a sós com a criança, ela está livre pra mostrar se gostou de você. Não se sente pressionada a te escolher como mãe. Quando ela está a sós ela pode mostrar quem ela é, pra que você a ame do jeito que ela é.
Não quero que aconteça comigo. Chegar em casa e perceber que a criança foi obrigada a nos aceitar. Nem pensar. Eu posso me apaixonar pela criança, mas ela só vem comigo se estiver realmente com vontade de dar uma chance ao meu amor. Somente se ela me adotar como mãe.

Aquela tarde foi a que eu mais tirei lições sobre o processo de adoção. Me surpreendi com tantas possibilidades que podem acontecer no nosso caminho. Hoje mesmo abri mais uma possibilidade. Liguei para uma tia minha que mora no interior. Pedi a ela que fosse no juizado da cidade dela perguntar o que eu precisava fazer para adotar um filho.

Na verdade minha intenção no fundo era ouvir “menina, arranjo uma criança pra você hoje mesmo” – tentação. Mas lembrei de Miguel e fiz a coisa certa. Adoção, só pelo juizado.

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