Capítulo 7 - Uma Casa

Com o processo no juizado sendo iniciado, nós sabíamos que mais cedo ou mais tarde iríamos receber a visita da assistente social. Nós decidimos que precisávamos de uma sala. O que a assistente social iria pensar de uma casa que não tem sala? Temos 02 quartos, 01 cozinha, 01 área de serviço, três sanitários, uma garagem grande, 01 escritório... mas não havia uma sala de estar.

Há 2 anos, quando resolvemos montar meu escritório em casa, refletimos sobre todos os impactos que isso poderia ter. Na minha profissão isso é até comum. Conheço muitos arquitetos ou engenheiros projetistas que trabalham em casa, num escritório que fizeram para atender seus clientes.

A nossa casa tinha uma sala grande que dava um ótimo escritório. Fiz um projeto aonde saparei a sala/escritório do restante da casa, com entradas independentes, para preservar minha privacidade e manter a o cliente num local profissinal.

Fizemos a reforma da separação e criamos um lavabo muito bonito. O escritório ficou ótimo, espaçoso, o lavabo ficou moderno com pastilhas de vidro de cor azul no chão. Os móveis, cor de tabaco com branco e as paredes brancas deixaram o ambiente moderno. Mas a reforma do escritório levou toda a nossa reserva de dinheiro. Não sobrou capital para fazermos uma nova sala e mobília-la.

Analisando a planta daminha casa encontrei uma solução econômica e rápida para meu problema. Fiz um projeto para fazer a nossa sala aonde era a nossa copa, então, a cozinha seria do tipo americana, com um balcão de granito separando a sala. Só faltavam os móveis.

Visitamos uma loja de móveis muito bonita. Era uma das mais caras da minha cidade. Resolvemos parar nela por insistência de Léo: não custa nada dar uma olhada. Entramos. A loja era enorme. Quatro andares com centenas de ambientes, cada um mais lindo que o outro. A cada andar em me encantava mais com os móveis, mas me assustava mais com o preço.

Os móveis das primeiras seções pareciam móveis de castelos. Madeira maciça, muito trabalhada, com estofados florais. Lindo, caro, e não combinava com minha casa. Queria algo num estilo mais moderno, móveis brancos, sofá com design, estas coisas. Quando chegamos no terceiro andar havia uma seção que fazia mais nosso gosto. Cada coisa linda. Tudo combinava com que eu queria. O preço era o problema.

Visitamos a loja inteira e quando estávamos descendo pra irmos embora, resolvemos chamar o vendedor e fazer um orçamento. Ele disse que a loja estava em promoção e fez um preço tão bom, que eu nem acreditei. Compramos os móveis. Eu não acreditei. Meu sofá, meu rack e minha mesa de centro. Tudo lindo. Eu não acreditava. E o preço foi quase o mesmo de uma dessas lojas populares aonde passamos o dia anterior fazendo orçamento.

Tendo os móveis da sala, faltava pouco. Falta os móveis do quarto do nosso filho, que só iríamos comprar quando soubéssemos quem ele (ou ela) era.

Saindo da loja nos dirigimos aos juizado. Quando chegamos lá para levarmos os documentos eu estava muito nervosa. Será que faltava algo na documentação? Acho que não, eu repassei a lista várias vezes. Léo parecia tão ansioso quanto eu.

Quando ainda estávamos em casa e nos vestíamos para irmos ao juizado, aconteceu uma coisa engraçada. Vesti uma roupa e depois troquei Depois troquei de novo. De novo. Queria uma roupa que me deixasse menos tensa. Eu me arrumei antes de Léo. Quando ele acabou o banho e foi se vestir, escolheu uma roupa. Vestiu. Depois tirou e colocou outra. Depois, me pediu para eu escolher uma outra camisa, porque ele achava que não estava bom. A ansiedade nos faz passar por cada situação...

Logo que entramos na recepção do juizado, chagou um comissário com uma mulher e duas crianças. Elas pareciam que não se alimentavam há dias. A mãe, falava alto, protestando por ter sido levada ao juizado. Magros, pálidos e cheirando a xixi. A mãe foi denunciada por maus tratos.

Eu fiquei pensando na cena e imaginando o que leva uma mãe a descuidar daquela formas dos seus filhos. Será que ela é normal? Será que ela está passando dificuldades? Será que ela os ama?

Uma vez conversando com meu grande amigo Fernando, que tem uma filha adotiva, sobre o que leva uma mãe a dar um filho, ele me disse: é amor. Eu nunca havia pensado desta forma. Só o amor faz uma mãe abrir mão de seu filho para que outra cuide melhor.

A assistente nos chamou. Era uma mulher bonita, loira, magra, deveria ter uns 45 anos. Falava suavemente conosco, e torceu a boca quando ouviu a mãe das crianças raquíticas que estavam na recepção falar em alta voz que alimentava as crianças sete vezes por dia.

Primeiro, ela verificou a documentação. Tudo certo. Depois, as perguntas. Perguntas sem fim. Porque vocês resolveram adotar? Qual o seu problema de saúde? Seus familiares concordam? Vocês moram sozinhos? Existe alguém adotado na família?

E assim foram 40 minutos de conversa. Fomos questionados sobre qual horário poderíamos receber a assistente social em casa. No final, a assistente nos levou para marcarmos um horário com a piscicóloga. A atendente da piscicóloga nos informou que, antes da entrevista individual, passaríamos por uma reunião de pais. Imagine! Eu e Léo numa reunião de pais! Achei a idéia maravilhosa.

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